P vs. NP

No dia 8 de agosto, o pesquisador da empresa HP, Vinay Deolalikar, divulgou um artigo em que alegava mostrar que P não é NP. Este é mais um dos problemas do milênio do Instituto Clay [6]. O trabalho divulgou-se rapidamente pela internet e vários especialistas começaram a discutí-lo em seus blogs. Criou-se uma página colaborativa na internet (tipo wiki) para a avaliação do manuscrito, e no dia 13 de agosto já prevalecia a opinião que o problema "P vs NP" continuava em aberto, apesar das muitas idéias e resultados que o trabalho original de Deolalikar contém. A forma colaborativa como foi feita a revisão do artigo foi o motivo para uma matéria no jornal americano The New York Times.

http://www.claymath.org/millennium/P_vs_NP/
http://tinyurl.com/deolareview
http://www.nytimes.com/2010/08/17/science/17proof.html?_r=1

Do Noticiário Eletrônico da Sociedade Brasileira de Matemática

Tarefa

Pessoal,

Não levamos em conta que sexta-feira é feriado! Em função disso, o prazo para postagem do resumo é na segunda-feira 30/8 ao meio-dia.

Lembrem que o trabalho consiste em um resumo (na forma IMRaD) de um artigo publicado no periódico Science ou no periódico Nature. O resumo deverá informar os autores, o título, o periódico, as páginas e o ano de publicação.

Coloquem os resumos no blog como resposta a esta mensagem. Só serão avaliados resumos de pessoas com perfil completo; em particular, ao selecionar o nome do/a autor/a, é fundamental que o email esteja visível.

Alejandro

Professor da UnB critica a formação de doutores no Brasil

Notícias Quinta-Feira, 19 de agosto de 2010
JC e-mail 4046, de 06 de Julho de 2010.

17. Professor da UnB critica a formação de doutores no Brasil

Para Marcelo Hermes, do Departamento de Biologia Celular da Universidade de Brasília, daqui a quinze anos o país não terá capacidade de fazer ciência de ponta "porque toda a geração se aposentou e os atuais não foram formados adequadamente"


No último dia 10, os consultores do Centro de Gestão de Estudos Estratégicos (CGEE), ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, apresentou um estudo que concluiu, dentre outros, uma taxa média de 11,9% de crescimento ao ano do número de doutores no país. Para falar da expansão da pós-graduação no Brasil, a ADUNB entrevistou o professor do Departamento de Biologia Celular, Marcelo Hermes. Confira a seguir:

- O estudo do CGEE mostrou que entre 1996 e 2008 o número de doutores titulados no Brasil cresceu 278%. O que o senhor acha da expansão da pós-graduação no país?

A minha visão é contrária à expansão da pós-graduação, especialmente do doutorado. A maioria das pessoas acreditam que o crescimento no Brasil - e na UnB também - é positivo. A taxa de aumento, alguns anos atrás, chegou a variar entre 10% e 20%, um crescimento chinês. E todo mundo comemora isso, exceto alguns poucos. Eu acho que é um crescimento exagerado. Aliás, responder isso agora ficou mais fácil, desde que o país entrou no chamado super aquecimento. Esse crescimento de 9% ao ano o qual o país não suporta, já que não temos estrutura física para tanto bussines. E a mesma coisa acontece na pós.

- Como é essa comparação?

Para se ter pós-graduação são necessárias quatro coisas: os alunos, que querem fazer pós; os professores, que vão orientar e dar aula; os cursos e, claro, dinheiro. Dinheiro não tem sido o problema. Então o que acontece? Você tem um crescimento muito grande tanto no número de cursos, de alunos e de orientadores. Um olhar desatento, pensa "que bom!". Não. Muito pelo contrário. O país está andando para trás com esse crescimento exagerado da pós. Primeiro porque os professores têm uma capacidade finita de orientar. Antigamente, cada professor orientava cinco, hoje está orientando dez alunos. E isso causa uma queda da qualidade. Obviamente, você não consegue dedicar suficiente tempo para orientar esses alunos. Para formar doutores é preciso um trabalho artesanal. Eles têm que ser treinados, pois podem se transformar em orientadores no futuro. Além disso, nem todos têm capacidade de ser orientadores. Tem muita gente que não tem a formação técnica e a capacidade de orientar. E nem todo mundo tem a qualificação necessária para ser orientador de doutorado. E com esse crescimento exagerado, a pós está pegando vários professores que não têm a menor capacidade de orientar, mesmo que não queiram, porque vão pegar uns pontos a mais, vão ter uma promoção. Outro problema é a existência de alunos que não deveriam estar fazendo doutorado, porque não tem capacidade para isso.

- O senhor acredita, então, que nem todo mundo está apto a fazer um doutorado?

Sim. É curioso que hoje já entendemos que nem todo mundo deve fazer graduação. O candidato à presidência José Serra, por exemplo, está fazendo campanha pelo ensino técnico. A ideia é: o que adianta sair com um diploma de administração se você não vai administrar uma empresa? O problema é o mesmo no doutorado. Sendo muito otimista, acredito que metade desses milhares de alunos de doutorado é composta pelos que eu chamo de "doutores mobral", o doutor analfabeto, que mal sabe ler um artigo científico, quanto mais escrever. O Brasil quer formar doutores, então vamos formar de verdade.

- Existe algum outro fator que contribua para a baixa qualidade na formação desses doutores?

Um fenômeno atual é o caso de pessoas que se formaram em faculdades particulares estarem ingressando na pós-graduação. São alunos mais fracos, isso é um fato. Mas estão entrando porque a pós está expandindo. Eu diria que 90% da produção de doutores vêm das faculdades públicas. E diria ainda que 90% dos que vêm das particulares são fracos. Essa produção vai crescer, depois vai estabilizar e lá para 2025 vai começar a cair, porque vai ser quando os atuais orientadores vão se aposentar. Pode até ser que a produção de teses continue a crescer infinitamente. Só que essa segunda geração de "doutores Mobral" vai produzir a tese e não publicar ciência, a menos que as revistas também baixem muito o nível.

- Não existe reprovação em pós-graduação?

Praticamente não tem. 99,9% das pessoas são aprovadas no mestrado. O orientador corrige a tese antes de entregar para banca e muitas vezes a própria banca também reescreve a tese. Então a tese acaba não sendo mais do aluno, não é mais personalizada.

- Qual o motivo para o investimento no crescimento da pós-graduação no Brasil?

Para ter produção de ciência deve existir mão de obra para fazer pesquisa. E quem é que faz a pesquisa? O pesquisador coordena; 80% das pesquisas são feitas por alunos de doutorado. São eles a mão de obra. A Capes entendeu que, ao expandir ao máximo o doutorado, maior a produção e quantidade de resultados. A cada ano aumenta o número de alunos formados doutores e a cada ano aumenta o número de trabalhos publicados. A própria Capes usa isso como propaganda para mostrar como é positivo esse aumento do doutorado no Brasil. Fazem questão de divulgar que o Brasil, a cada ano, eleva sua posição no ranking de países que produzem ciência, ocupando o 14º lugar. Mas isso é criminoso: você forma o doutor para produzir a média de dois artigos. E é isso o que ele vai fazer. Veja o custo do país para formar uma pessoa cujo objetivo é fazer dois artigos. E, muitas vezes, quem vai escrever é o orientador, pois ele não tem condição de fazer isso. Porque é tudo muito rápido, prazos restritos e tem que fazer funcionar. O crescimento da ciência e da pós-graduação brasileira é uma neoplasia, um tumor e um dia isso vai explodir.

- O senhor acha que essa situação se sustenta no futuro?

Seria sustentável se as pessoas vivessem para sempre. Mas as pessoas morrem, se aposentam. Essa política está completando 6, 7 anos. Começou na era FHC em que se estimulavam os pesquisadores a publicar. Na era Lula a pressão é para se publicar o máximo que puder. Então os estudantes que estão sendo formados agora e que estão sendo ultra pressionados não sabem fazer pesquisa direito. Está sendo uma formação a jato, massificada, e quero ver essas pessoas quando a minha geração morrer ou aposentar. Quero ver se eles vão dar conta do recado, porque eles não tiveram a formação necessária. E quero vê-los formando outros profissionais dentro dessa visão de mega-produção de baixa qualidade. A minha crítica não é à publicação. Sou "produtivista". Mas sou contra ao mega-produtivismo.

- O senhor acha que esse panorama é contornável?

O que está acontecendo no Brasil é uma farsa e uma fraude com dinheiro público. Se fosse algo que pudesse ser resolvido mudando a política, mas não é. Será um "dano irreparável". Eu diria hoje, sem problemas, que temos de 30 a 40 mil doutores "Mobral" no Brasil, disputando empregos. Qual o problema para o Brasil? Imaginamos o país daqui a quinze anos sem capacidade de fazer ciência de ponta porque toda a geração se aposentou e os atuais não foram formados adequadamente.

- Como o senhor acha que essa questão do crescimento da pós-graduação é vista pelos outros pesquisadores?

Eu fiz uma pesquisa, publicada em 2008 em uma revista canadense, em que entrevistei vários colegas pesquisadores, selecionados ao acaso, sobre o que eles achavam da pós-graduação brasileira em vários aspectos. A grande maioria, e eu comparei com alguns señiors latino americanos (mexicanos, argentinos e chilenos), critica esses problemas de regras muito ruins da pós-graduação, de overwork e má qualidade dos recém-doutores sendo formados. O doutor tem que ser qualificado. Na minha área (Ciências Biomédicas) ele tem que ser capaz de propor um projeto de pesquisa, de executar esse projeto de pesquisa, de montar uma equipe, de buscar verba para isso, de publicar em periódicos internacionais, de ser avaliador de outros artigos, de dar palestras. Eu e os pesquisadores que entrevistei acreditamos que a maioria que está sendo formada não tem mais essas qualificações. Algumas pessoas falam que a qualidade do ensino como um todo está caindo. Não gosto de analisar por esse viés, não sou sociólogo. As coisas são mais simples: a pressão é muito grande, não está havendo tempo de formar as pessoas. Por exemplo, tenho um amigo no campus da Unifesp, que é professor titular, que reprovou os 10 candidatos de um concurso para professor e todos tinham doutorado. Que "ótimos" doutores.
(ADUnB, 1/7)

Leitura fortemente recomendada

Alfabetização em textos científicos

Sítio Web interessante

Pessoal,

Vale a pena dar uma olhada nos tutoriais do sítio Web Pós-Graduando.

Alejandro

A relação entre qualidade de artigos, ensino e carreira científica

JC e-mail 3993, de 20 de Abril de 2010

Para que o país se torne mais competitivo, será necessária uma revisão no ensino e na prática científica no Brasil, de modo a fortalecer uma cultura científica entre os futuros cientistas, dizem especialistas

O Brasil tem se destacado nos últimos anos com o crescimento da sua participação na produção científica mundial, hoje em 2,12%. Há dez anos, ela não passava de 1%. Atualmente, a maior preocupação é em relação à qualidade dessa produção, refletida tanto pelo baixo número de citações de artigos brasileiros quanto pelo maior volume de publicações em periódicos com baixo fator de impacto.

Na última quinta-feira (15/4), médicos, cientistas e editores de periódicos se reuniram no Instituto de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, durante o I Colóquio Brasileiro sobre Pesquisa e Publicações Científicas de Alto Impacto, para debater as principais razões que levam o país a ter uma performance científica aquém da desejada.

Embora um dos principais argumentos para a pouca penetração brasileira em periódicos considerados de alta qualidade seja normalmente atribuída às dificuldades na comunicação científica feita em inglês, essa parece ser a questão mais simples a ser solucionada. O problema, no caso brasileiro, é mais complexo.

"Muitos erros conceituais estão sendo multiplicados nos periódicos de menor impacto", afirmou Gilson Volpato, professor do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu, que tem se dedicado a cursos para melhorar a redação científica.

Erros que, segundo ele, se referem, sobretudo, à base empírica das pesquisas - argumentos que sustentem os dados, ou poucos dados para construir teorias, por exemplo -, ao excesso de informações e ao modo de se pensar o fazer científico. Sua análise aponta para falhas nos cursos de graduação, que deveriam ensinar as perguntas importantes para se pensar a ciência, ao invés de focar apenas no conteúdo.

"O importante no curso de biologia é saber dissecar um sapo. Fomos ensinados a ser técnicos, mas não cientistas", concordou Márcia Triunfol, consultora para cientistas escreverem artigos para periódicos de alto impacto e doutora em biologia molecular pela Universidade Federal Fluminense (UFF).

Em sua fala, Triunfol reforçou que, além do país não ter tradição científica forte, há dificuldades que contribuem para tornar os cientistas menos competitivos. Entre elas a conhecida falta de agilidade para comprar e receber insumos necessários para os experimentos.

"Dinheiro não é problema, mas sim como ele é distribuído, gerenciado", afirmou, apontando que a dificuldade de planejamento no Brasil compromete o processo de inovação e descoberta. Diante de tantas dificuldades, os cientistas brasileiros, acredita a especialista, não se arriscam e preferem fazer pesquisas que são variações de estudos já existentes, além de não conseguirem realizar trabalhos experimentais completos, e assim, acabam publicando o trabalho em partes, em periódicos de menor impacto.

Mas as razões para a baixa qualidade da produção brasileira não param por aí. Martha Sorenson, do Departamento de Bioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), investigou as razões que levam as pesquisas nacionais a conquistarem baixo impacto em relação à média mundial.

Segundo ela, enquanto os artigos de física, uma das áreas de pesquisa de maior impacto internacional do país, recebem 14% menos citações do que a média internacional, a biologia e bioquímica estão atrás em 57%.

Para entender essa discrepância, a bióloga comparou a qualidade da produção científica de cientistas brasileiros com os norte-americanos, ambos com indicadores de alto nível de produção. No caso nacional, todos os especialistas recebem bolsa produtividade em pesquisa níveis 1A ou 1B do CNPq, incluindo alguns membros da Academia Brasileira de Ciências, em várias áreas de atuação da bioquímica.

Comparativamente os brasileiros, embora publiquem em periódicos de alto impacto, recebem, em média, menos citações por artigo que os colegas norte-americanos. Isso ocorre, segundo ela, porque os cientistas brasileiros estão envolvidos em inúmeras atividades extra-pesquisa, consideradas altamente dispersivas, a saber: atividades que deveriam ser exercida por técnicos e secretários, grande número de orientação de graduandos e pós-graduandos, poucos pós-doutores, e a burocracia típica dos projetos que coordenam.

Há também, afirma, baixa competitividade entre os brasileiros. "A estabilidade ocorre muito cedo na carreira dos professores e professores associados". Todos esses fatores, segundo Márcia Triunfol, fazem com que os brasileiros se sintam intimidados. Muitas vezes, se produz pesquisas de qualidade, mas seus autores não se julgam capazes de ter um trabalho aceito em periódicos de alto impacto ou aceitam o parecer negativo de seu artigo passivamente.

Ao que tudo indica, para que o país se torne mais competitivo será preciso uma revisão no ensino e na prática científica no Brasil, de modo a fortalecer uma cultura científica entre os futuros cientistas. A 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, que ocorre em maio em Brasília, terá como desafio estabelecer estratégias de atuação para alavancar o impacto e a qualidade da ciência brasileira. Em 2008, o país formou cerca de 10.700 doutores, com planos de chegar a 16 mil neste ano.

(Revista ComCiência, 19/4)

O que podemos aprender com editores de periódicos de alto impacto?

JC e-mail 3993, de 20 de Abril de 2010

Publicações de excelência têm taxas de rejeição superiores a 90%, rápido processo de avaliação e busca por artigos com equilíbrio entre forma e conteúdo

Nas dependências de um hospital de primeiro mundo, no coração da maior metrópole brasileira, se reuniram, na quarta-feira (14/4), editores de periódicos científicos internacionais de alto impacto.

Meta de publicação para uns, sonho distante para outros, os periódicos Science, The Lancet Infetious Diseases, Journal of the American Medical Association (Jama) e o Journal of Clinical Investigation (JCI) têm muitas coisas em comum: taxas de rejeição superiores a 90%, rápido processo de avaliação, busca por artigos com equilíbrio entre forma e conteúdo, além de defenderem um processo de avaliação igualitário, focado na qualidade científica.

O I Colóquio Brasileiro sobre Pesquisa e Publicações Científicas de Alto Impacto realizou-se até sexta-feira (16/4) nas dependências do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, em São Paulo, buscando diagnosticar as dificuldades que impedem o Brasil de publicar mais e melhor e definir formas de conquistar mais visibilidade internacional.

Dentre os ideais de publicações apresentados pelos editores estão a busca por artigos de qualidade, compactos, originais e interessantes, que apontem novas formas de pensar, tragam a resolução de dificuldades antigas nas áreas de conhecimento, e sejam definidores de novas questões ou técnicas. Até aí, nenhuma novidade. Mas os editores presentes deixaram claro que a dedicação dos autores não deve ficar restrita ao corpo do artigo.

"O resumo é absolutamente crucial", enfatizou John McConnell, editor da Lancet Infectious Diseases. Junto com a carta de apresentação do artigo, constituem materiais que podem definir uma rejeição imediata. Por sua relevância, Ushma Neill, editora da JCI, lembrou que os editores ficam à disposição de futuros autores para pré-avaliar um resumo de um trabalho, antes mesmo da submissão do artigo completo, uma forma de minimizar esforços diante de uma forte concorrência. A Science recebe cerca de 25 mil artigos por ano, enquanto na Lancet esse número é de 11.750, e no Jama, de quase seis mil.

As principais razões para a rejeição de artigos vão desde, simplesmente, não fazer parte do escopo da publicação, até má qualidade, estudos meramente confirmatórios de resultados anteriores, sem contribuir para novos insights, resultados muito preliminares, pouca relevância, discussões e conclusões pouco convincentes, entre outras.

Por trás do complexo processo de avaliação de artigos - há um exército de pareceristas (peer reviewers) voluntários ao redor do mundo, que são constantemente recrutados. McConnell afirma que prefere os pesquisadores jovens, por eles produzirem pareceres, normalmente, mais detalhados e, portanto, de melhor qualidade.

No entanto, a dificuldade é identificar esses especialistas, já que ainda têm baixa produção acadêmica. Portanto, a sugestão colocada pelos editores é que os autores sugiram nomes de possíveis pareceristas, além de apontar aqueles que não devem participar do processo, por haver conflito de interesses. No entanto, Robert Golub, editor-sênior do Jama, deixou claro que "os pareceristas são apenas consultores dos editores, mas não definem sobre o destino da publicação".

Neutralidade de tratamento?

Uma das questões frequentes no debate sobre a participação brasileira em publicações de alto impacto não passou despercebida no Colóquio: existe diferença na avaliação de artigos escritos por autores cuja língua materna não é o inglês, sobretudo de países pobres? A resposta de Pamela Hines, da Science, foi consensual entre os editores: "Para nós, não importa o país, a instituição ou quem é o autor. Nos importamos com o conteúdo intelectual do artigo".

Embora o discurso esteja dentro da tradicional visão da ciência universal, isenta de valores socioculturais, Márcia Triunfol, consultora de publicações científicas da empresa Publicase e organizadora do evento, lembrou o fato dos revisores de periódicos de alto impacto usualmente solicitarem que artigos de brasileiros - e o mesmo poderia ser dito para outros países - sejam revisados por nativos da língua inglesa.

"Nunca poderemos atender a essa exigência, porque teríamos que nascer de novo", lamentou, "seremos sempre dependentes". Triunfol acredita que está na hora dos editores darem outro tratamento aos autores de países que não são falantes nativos do inglês.

O evento é voltado apenas para a comunidade do Albert Einstein, que contou com participantes que preencheram pouco mais da metade da capacidade do auditório. Mas, certamente, trata-se de uma importante iniciativa para fomentar o debate de um ponto que o Brasil precisa enfrentar: apesar da conquista recente de um 13º lugar no ranking de produção mundial de ciência - segundo dados referentes a 2008 no banco de dados da Web of Science (WoS) - , o país ainda precisa melhorar os números de citações que seus artigos recebem.

Segundo Rogério Meneghini, um dos fundadores da biblioteca virtual SciELO - terceiro maior banco de artigos científicos de acesso aberto do mundo -, atual coordenador científico da instituição e palestrante do Colóquio, embora a participação brasileira na produção científica mundial tenha tido o maior incremento entre as nações no ano de 2008 - mesmo considerando a entrada de nada menos do que 32 novos periódicos no sistema de indexação internacional WoS -, o número de citações por artigo ainda é baixa, em média 2,58, semelhante à Índia, mas inferior à China (3,73).

Dentre os exemplos citados por Meneghini estão as publicações no campo de saúde pública, nas quais o Brasil se destaca como terceiro no ranking de produção de artigos, muito embora o número médio de citações que cada artigo receba seja inferior a 1 (0,95, no ano de 2008).

A expectativa do evento, segundo Luiz Vicente Rizzo, um dos organizadores e superintendente do Instituto de Ensino e Pesquisa do Albert Einstein, é melhorar a performance brasileira nas publicações internacionais, otimizando o potencial que a ciência nacional já possui. "Não tenha medo de ter um artigo rejeitado na Science, você estará em boa companhia", brincou Pamela, lembrando que o periódico rejeitou cerca de 94% dos artigos recebidos em 2008.

(Revista ComCiência, 15/4)

Mais uma leitura

Ver, ler, entender e pensar a respeito do texto Quinze Cientistas Importantes.
Alejandro

nas coxas

A moda, neste inculto Brasil de hoje, são as etimologias baratas. Nos últimos dois anos, mais de vinte livros sobre o tema foram lançados com sucesso (não menciono os títulos porque não faço propaganda de produto ordinário), escritos quase sempre por amadores, autodidatas ou oportunistas, que emitem suas opiniões sobre a origem das palavras com aquela segurança invejável que só adquire quem tem uma sólida ignorância. Há um ou outro autor sério, estudioso, que faz trabalho honesto, pesquisando em dicionários e embasando suas afirmações com a obra de bons escritores — mas essa seriedade e esse rigor, que para mim são virtudes, são defeitos para o grande público, que prefere a explicação fácil e engenhosa, pouco se lhe dando se foi ou não inventada.

Com a rapidez de um vírus, essas etimologias de R$1,99 se espalham pela internet e dali chegam aos blogues, aos jornais e às revistas, de onde serão recolhidas novamente por esses catadores de lixo, que irão reciclá-las em novos livros sobre a “origem divertida das palavras”. É um ciclo infernal! O típico autor dessas obras tem escassa ou nenhuma formação lingüística, o que o deixa mais à vontade para escrever a barbaridade que lhe der na telha. Como não sabe como funciona uma língua humana, acha plausível (!) que o vocábulo forró tenha nascido da recepção errada de “For all” (”para todos”, em Inglês, que soa mais ou menos como /foróu/), que assinalava, nas bases americanas no Nordeste, as festas abertas à comunidade — e se alguém lhe ensina que se trata, na verdade, de uma simples redução de forrobodó (”festança”), vocábulo já encontrável no séc. XVIII, ele torce o nariz e exige que o convençam disso! Como se diverte com esses equívocos com palavras desconhecidas, afirma ingenuamente que a lhama recebeu esse nome por causa de um mal-entendido similar: diante do conquistador espanhol que apontava para o simpático animalzinho e perguntava — decerto aos gritos e com feroz carantonha — “Como se llama?”, algum amedrontado antepassado de Evo Morales, à guisa de resposta, teria apenas balbuciado a última palavra da pergunta — “Llama” — como se fosse o comportamento normal de qualquer ser humano repetir o final da frase quando o interlocutor fala uma língua estrangeira.

Como nosso autorzinho não estudou Latim, que já é coisa ultrapassada, sente-se livre para dizer que enfezar significa “estar cheio de fezes”, ignorando que vem de infensare, “opor-se a alguma coisa com vigor, hostilizar”. Pior é quando ele próprio resolve arriscar uma origenzinha histórica, falsa como tudo o que ele vende: é o caso de aluno, cuja etimologia de araque vem sendo apresentada com sucesso em muitos seminários pedagógicos por aí. O termo viria de *luno (que significaria “luz” — só Deus sabe em que língua!), e a-luno seria aquele que está sem luz, à espera de que o professor o tire da obscuridade em que vive — o que tornaria o termo politicamente incorreto (!) para aqueles que defendem uma gestão democrática da escola, sendo mais adequado substituí-lo por estudante... É sinistro ver como uma idéia tão rasteira se alastrou entre muitos dos profissionais encarregados da educação dos pobres brasileirinhos! Mas será que não existe uma boa alma ali que se nime a abrir o dicionário do Houaiss para ver que aluno vem do Latim alumnus, “criança de peito, menino, aluno, discípulo”, derivado de alere, que significa, entre outras coisas, “desenvolver, nutrir, alimentar, criar, fortalecer”?

O nosso etimólogo amador começa, agora, a “corrigir” o passado. O velho provérbio “Quem não tem cão caça com gato” está errado; o certo, diz a sumidade, é “caça como gato”, isto é, sozinho — contrariando todas as obras de paremiologia publicadas até hoje e deixando o próprio Machado com cara de bobo, por escrever “com gato”. Tem mais: não é “Quem tem boca vai a Roma”, mas sim “vaia Roma”… Essa é de cabo-de-esquadra! E o que vamos dizer aos franceses (”Qui langue a, à Rome va“), aos espanhóis (”Preguntando se va a Roma“) e aos italianos (”Chi lingua ha, a Roma va“)? E outra coisa: nas coxas viria do hábito de moldar a telha de argila nas coxas dos escravos, o que a deixava com forma irregular! Que descoberta! Eu pensava, maliciosamente, que era expressão proibida à mesa de refeição porque indicava o velho sexo intercrural (ou interfemoral), já tão praticado na Grécia, conceito muito conhecido pela minha geração mas que os jovens atuais simplesmente não entendem (”Se chegavam na portinha, por que não iam adiante?”), e que fazer nas coxas era fazer algo afobadamente, apressadamente, deixando malfeito e incompleto o que poderia ser melhor — bem do jeito como vem sendo praticada essa etimologia de meia-pataca.

[Coluna O Prazer das Palavras — publicado no jornal ZH em 6/01/2007]

Tarefa para 7/3

Bom dia pessoal,

Até o dia 7/3 às 18:00 deverão postar um comentário sobre o seguinte vídeo:



Para fazer a postagem deverão
  1. Assistir o vídeo até o final.
  2. Assistir o vídeo novamente, registrando o nome e a área de atuação dos cientistas cujos depoimentos compõem o vídeo.
  3. Assistir o vídeo novamente, registrando o que cada um deles fala.
  4. Fazer uma busca livre na Internet, à procura de informações da vida e atuação de cada um deles.
  5. Escolher um deles para comentar o impacto do seu trabalho na ciência contemporânea.
  6. Fazer um comentário breve e objetivo do/a cientista escolhido/a. Será pontuada a qualidade e a originalidade do texto.
A postagem deverá ser feita no prazo e na forma de um comentário a esta entrada do blog.